sexta-feira, 20 de novembro de 2009

"Se vacinarmos muitas grávidas evitamos algumas mortes"

Entrevista a Luis Graça, Presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia
DN 19 de Novembro de 2009, por Patrícia Jesus.

«As grávidas devem ter medo da vacina contra a gripe A?
Já me telefonaram algumas grávidas a perguntar se mantenho a minha indicação. Neste momento, a evidência científica diz que devem ter muito mais medo de serem infectadas pelo H1N1, do que da vacina. Temos muitas mulheres grávidas que já estiveram nos cuidados intensivos por causa da gripe A. Logo, têm que pesar o risco de contactar com o vírus vivo, contra o risco de contactarem com o vírus morto, na vacina.

Há testes suficientes para garantir a segurança da vacina para as grávidas?
Temos a experiência de haver milhares de mulheres grávidas imunizadas com esta vacina em vários países euriopeus sem qualquer registo de problemas ou de morte fetal. Dos 27 países da União Europeia, 26 estão a usar esta vacina. A Suécia vacinou 2,5 milhões de pessoas e a Noruega cerca de um milhão, incluindo muitas grávidas. Nós, em Portugal, gostamos muito de empolar as situações e é isso que estamos a fazer.

Ontem perguntava: "Se uma mulher partir uma perna dois dias depois de ter sido vacinada, a culpa é da vacina?" Acha que se pode dizer isso?
Isso foi um desabafo. Mas dou-lhe outro exemplo. Se uma grávida for vacinada e dois dias depois tiver uma apendicite e tiver que ser operada, ninguém vai fazer a ligação. E, no entanto, é uma situação mais rara. A morte fetal tardia é mais frequente. A campanha de vacinação começou há quase um mês, o que significa que já morreram outros 25 fetos, mas ninguém fala neles. Não podemos pautar as medidas de saúde pública com receio das notícias da comunicação social.

É de esperar que ocorram mais situações destas?
Quanto mais mulheres grávidas forem vacinadas, maior vai ser o número de fetos, que morreriam na mesma.

E quando é que nos devemos preocupar?
As autoridades de saúde e os médicos, mesmo os que não têm nenhuma relação com o ministério, como é o meu caso, estão atentos. Não estamos de olhos fechados e, se houver uma suspeita forte, seremos os primeiros a levantar o problema e a dizer: "Alto lá!" Mas não há nenhum motivo para o fazer neste momento. O que sei é que, se vacinarmos a maior parte das grávidas, vamos evitar a morte de algumas.»

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